domingo, 18 de novembro de 2007

Pessoa, Fernando

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira a entreter a razão,

Esse comboio de corda

que se chama o coração.

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